terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A ACLA QUE ESTÁ EM RECESSO ATÉ FINAL DE FEVEREIRO, COMEÇA A INSPIRAR-ME AS SAUDADES DOS NOSSOS ENCONTROS.

O PRESIDENTE
UMA PLENÁRIA EXTRAORDINÁRIA EM CEARÁ-MIRIM
PRIMEIRA MOSTRA DAS ARTES VISUAIS DA ACLA
FOTO DA SOLENIDADE EM QUE O PRESIDENTE DA ACLA RECEBEU O TÍTULO DE CIDADÃO NATALENSE.
A REUNIÃO ONDE FOI OFICIALIZADA A ACADEMIA - MARÇO/2011.
MOMENTOS DE DESCONTRAÇÃO EM REUNIÃO
O PRESIDENTE NA MOSTRA DAS ARTES VISUAIS NA FUNDAÇÃO CAPITANIA DAS ARTES.
TITULO DE CIDADÃO NATALENSE A PEDRO SIMÕES NETO
MOMENTOS BONS DE RECORDAR!!!

domingo, 29 de janeiro de 2012

BOM DIA MEU PRESIDENTE, VOU AO SANTO OFÍCIO DE FRANKLIN JORGE PARA BUSCAR UMA DE SUAS PÉROLAS LITERÁRIAS.

PEDRO SIMÕES NETO

POR O SANTO OFÍCIO | 19 JUNHO, 2011

SANTIFICAR O ESCRITOR, OU EXCOMUNGAR O HOMEM?
Por Pedro Simões Neto (*)

Já me referi a esse dilema em outra nota, dando Céline como exemplo.
A questão é: o ser humano deve ser considerado na sua individualidade como um todo, ou pode ser fracionado em tantas partes quantas sejam as suas personalidades?

Pode ser condenado como abjeto e glorificado como virtuoso, ou os extremos devem ser unidos porque se trata de uma individualidade íntegra, de sorte que o vício de uma faceta contamina a outra?

A última indagação soa um tanto ambígua e encerra uma contradição que pode ser usada em seu próprio desfavor.

Ora, se o vício de uma extremidade, afeta a outra, então, a virtude de uma delas purifica a outra, pois não?

Apresento os casos de Ezra Pound e Louis-Ferdinand Céline, dois intelectuais dados como virtuosos expoentes na poesia e na ficção.

Pound, um ícone da poesia moderna, foi o motor de diversos movimentos modernistas, notadamente do “Imagismo”. Os defensores desse gênero pretendiam explorar de forma disciplinada as potencialidades da imagem e da metáfora, consideradas a essência da poesia. Pound influenciou grandes nomes da literatura tais como James Joyce, W. B. Yeats e T. S. Eliot, entre outros. (T. S. Eliot, chegou a submeter o manuscrito da sua obra “The Waste Land” à apreciação de Pound antes de o publicar em 1922).

Pois bem, esse quase-gênio poético, inovador, renovador da linguagem poética contemporânea, foi um fidelíssimo integrante do movimento nazi-fascista quando residia na Itália, chegando a escrever tratados econômicos e históricos antidemocráticos que negavam a própria essência político-doutrinária do seu país, os Estados Unidos, razão pela qual foi condenado à prisão em 1945.

Considerado mentalmente incapaz, dizem que um artifício para livrá-lo da prisão, foi internado durante 13 anos num hospital psiquiátrico em Washington. A acusação de traição só foi retirada em 1958 e Pound voltou à Itália depois da sua libertação. Trabalhou nos seus “Cantos” até 1972, ano da sua morte.

Céline, (aliás, Louis-Ferdinand-Auguste Destouches) médico, ex-combatente na primeira guerra, com o soberbo e intrigante “Viagem ao fim da noite” consagra-se como um dos maiores escritores do seu tempo. Ele é considerado pela crítica um dos ficcionistas mais influentes do século XX, graças ao desenvolvimento de um novo estilo de escrita que modernizou a literatura francesa e mundial. A este livro se seguiu outro sucesso de público “Mort à crédit” que com “D´un château à l´autre” e “Nord”, (este último traduzido para o português – “Norte”) destacaram-se entre cerca de vinte títulos publicados pelo autor, consagrando-o como um dos maiores nomes da literatura universal.

O legado de Céline sobrevive nos escritos de Samuel Beckett, Jean-Paul Sartre e Jean Genet, e na devoção manifestada por outros luminares da modernidade como Robbe-Grillet e Barthes . Nos Estados Unidos, atraiu a atenção e o respeito de escritores como Charles Bukowski , Henry Miller , Jack Kerouac , Kurt Vonnegut, Jr. , Allen Ginsberg e William S. Burroughs.

Tornou-se conhecido e adotado entre os da geração “beat”, por adotar uma visão caótica, e anti-heróica do sofrimento humano, inovando ao utilizar elipses dispersas por todo o texto para melhorar o ritmo e ressaltar o estilo do discurso. Nos dois primeiros livros citados, ele não só se mostrou um grande inovador como também um contador de histórias magistral.

Então? Toda essa genialidade se desvaneceu diante do seu engajamento nazi-fascista, e cruzada anti-semita, ele, francês, testemunha de uma Paris ocupada? E Pound, norte-americano, colaborador dos inimigos do seu país, divergente do próprio regime democrático, o paradigma político nacional?

Quais os parâmetros corretos para esses julgamentos, se é que devem sê-lo? O que de fato está em jogo - a “persona”, a sua alteridade ou a integridade do ser humano? O indivíduo singularmente considerado ou o artista?

E sob quais contextos históricos devem ser apreciados?
Ou a danação é eterna, irreversível e incompensável?


(*) Presidente da ACLA- Academia de Letras e Artes do Ceará-Mirim

Natal, madrugada de 16 de junho de 2011

PS: Do site de Franklin Jorge - http://www.osantooficio.com

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"ADVINHE QUEM VEM PARA O CAFÉ DA MANHÃ"? POR MÁRIO IVO CAVALCANTI - JORNAL DE HOJE 2008.

LÚCIA HELENA E A AVÓ MADALENA EM 1957
LÚCIA HELENA E MÁRIO IVO
JORNAL DE HOJE
Mário Ivo Cavalcanti

Adivinhe quem vem para o café-da-manhã: Lúcia Helena Pereira
i30 de novembro de 2008
[Cultura 291108 sábado]

“Sou um poema inacabado”, revela Lúcia Helena Pereira em seu blog (www.outraseoutras.blogspot.com).
Lúcia Helena é também um furacão em construção.
Um tsunami de simpatia.
Alguém que sabe que o menor caminho entre dois pontos é uma reta.
O “poema inacabado” foi a primeira mulher deste Rio Grande a presidir a AJEB, Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. Ocupa a cadeira 08 da Academia Feminina de Letras, tendo como patronesse a sua avó paterna Magdalena Antunes - que dedicou para a então menina de 13 anos na primeira edição de “Oiteiro”: “À minha netinha Lúcia Helena, para quem as estrelas brilham no céu da sua alma, oferto o meu romance escrito como se fosse uma vênia aos que me acompanharam na bela jornada, onde , genuflexa e agradecida, rendo minha homenagem ao passado e às paisagens que tanto encantamento me deram. Por conseguinte, um livro de reminiscências, de louvores e imensa saudade dos meus ancestrais e daqueles que me seguiram na trilha dourada do amor e nos caminhos das dores e belezas. Sua avó, Lhene (Magdalena).”

Com os olhos no presente, mas sem esquecer o passado, Lúcia Helena relembra a avó, a escritora.

"DA MULHER PARA A MULHER

Quando a A.S. Livros procurou-me, através de Cícero, em 2001, com vistas à segunda edição do livro de vovó Magdalena, fiquei encantada. Afinal, o amado primo Nilo Pereira lutou muito por essa reedição, mas, em vão. O fato é que a menina do vale, a dama de olhos oceânicos, a sinhá-moça (sinhá-Lica) do Oiteiro, como que miraculosamente voltou! E voltou cheia do feitiço das lembranças fiéis.

Seu livro, numa tiragem de 3.500 exemplares, integrando a coleção Letras Potiguares, esgotou-se rapidamente. Eu recebi 50 livros, dos quais só me resta um exemplar, e Uruquinha (Denise Pereira Gaspar) comprou cerca de 300 ou 400 exemplares, os quais, em noite pré-natalina no Ocean Palace, ofereceu aos parentes e amigos.

Lembro-me do rebuliço desse livro, nos idos de 1956 a 1958 (os festejos anteriores e posteriores ao seu lançamento). No terraço da velha casa de vovó Madalena, na Hermes da Fonseca, nº 700 entravam e saíam os intelectuais amigos da sinhá-moça: Luís da Câmara Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Américo de Oliveira Costa, o sobrinho Nilo Pereira (que vinha do Recife, uma vez ao mês, quando da organização do livro), Veríssimo de Melo e tantos outros cultores das Letras!
Vovó, em sua cadeira de rodas, com a paciência de uma santa, em vários momentos demonstrava suas emoções e víamos lágrimas brincando em seus olhos. Numa dessas reuniões ela pediu aos amigos: “Deus do Céu, vamos devagar com esse livro, eu já não tenho uma perna… do jeito que as coisas vão andando, perderei a outra”. E esbanjava um sorriso da alma.
Antes da noite de autógrafos, em 1958, no auditório da Fundação José Augusto (antiga Escola de Jornalismo de Natal), vovó recebeu a visita da redatora-chefe da revista, “Da mulher para a mulher”, Sra. Maria Tereza.
Assisti essa cena, no velho terraço, com olhos de menina, olhos de amor e olhos de encantamento. Eu tinha 12 anos de idade e guardei essa entrevista em minha memória (eu tinha uma edição dessa revista…).
Uma das perguntas surgiu quando a jornalista Maria Tereza observou-lhe, no olhar, um intenso brilho para um dos galhos da mangueira secular, junto ao terraço, onde vovó escrevia e um lindo pássaro construíra seu ninho.
“E essa árvore, dona Madalena, tem alguma importância para seu livro?”
Vovó esboçou um suave sorriso, respirou fundo e respondeu:
“As árvores, menina, também saem dos seus lugares e dão sombra e frutos. Nelas os pássaros constroem seus abrigos, formam sua ninhada e cantam as suas sinfonias.”
Madalena Antunes (25 de maio de 1880) faleceu com 79 anos (11 de junho de 1959), na sua casa querida da Hermes da Fonseca, onde realizou seu maior sonho: a publicação do seu livro de reminiscências. Era irmã de Etelvina Antunes de Lemos (poetisa), Juvenal Antunes de Oliveira (promotor de justiça, boêmio e poeta) e Ezequiel Antunes de Oliveira (médico e capitão do exército).
Era filha do tenente-coronel José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira (proprietário e responsável pela construção do Solar dos Antunes - 1880).
Há muito que falar sobre os Antunes e Pereira. Família de escritores e belos poetas. Um exemplo, o primo Nilo Pereira (maior cronista literário do RN) e Ruy Antunes Pereira (pai de Uruquinha - Denise), que deixou, em suas epístolas, motivos sobrados para que Denise e eu organizássemos o seu livro “Mucuripe, o mundo encantado de Ruy Antunes Pereira” (nov. 1995). Dele, bastaria essa imagem poética para a dimensão maior da poesia de sua alma: “Estarei sonhando? Este vale existe? E o verde é uma cor, um sentimento?” (trecho de uma das cartas de tio Ruy para mim - a “sobrinha dileta”). [Lúcia Helena Pereira]
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Este texto foi publicado em domingo, 30 de novembro de 2008 às 15h36 e arquivado como Crônicas. Você pode seguir qualquer comentário deixado neste texto através do feed de RSS 2.0. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback de seu site.
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http://nlusofonia.blogspot.com/2010/12/advinhe-quem-vem-para-o-cafe-da-manha.html

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

MISSA DE 30° DIA EM LOUVOR DA ALMA DE RUYMA MANSUR PEREIRA

RUYMA MANSUR PEREIRA

29.10.1962 02.01.2012
Missa de 30º dia

Ruy Pereira Júnior (pai) e Leyse, Denise Pereira Gaspar (tia), Leonardo e Gabriel (filhos), irmãos, sobrinhas e familiares de Ruyma, agradecem as manifestações de pesar recebidas pelo seu falecimento, e convidam para a missa de 30º dia que será celebrada na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, na rua 2 de Novembro em Petrópolis, às 18:00hs do dia 01 de fevereiro de 2012(quarta-feira).
Antecipadamente, agradecem aos que comparecerem a esse ato de fé cristã.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

MISSA DE 30° DIA EM LOUVOR DA ALMA DE ENÉLIO LIMA PETROVICH, DIA 06-02-2012.

ENÉLIO LIMA PETROVICH
MISSA DE 30° DIA

Maria do Perpétuo Socorro Galvão Petrovich (Miriam Petrovich), Lirian e Júlio Cesar, Célio e Maria do Livramento, Enélio Antonio e Ana Carla, e respectivos netos, convidam para a Missa de 30° dia, em sufrágio da alma de Enélio Lima Petrovich, a realizar-se no próximo dia 06-02-2012, às 17:00, no Convento Santo Antonio (Igreja do Galo), em Cidade Alta.

Desde já agradecem a este ato de Fé e Caridade Cristã.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

NILO PEREIRA - VINTE ANOS NA ETERNIDADE - POR ROBERTO PEREIRA (SEU FILHO).

ROBERTO PEREIRA (*)
NILO PEREIRA
NILO PEREIRA - VINTE ANOS NA ETERNIDADE
Roberto Pereira (*)


Saudade, à Guimarães Rosas, é ser, depois de ter. Para a família do escritor Nilo Pereira, que o teve como marido, pai e avô, ele hoje é somente saudade. A ausência-presença de um homem que nunca se exauriu no amor aos seus entes queridos.
Um Nilo oceânico, como foi chamado por muitos dos intelectuais após o seu encantamento. Sim, ele era inesgotável, por exemplo, no seu saber acadêmico, na sua inteligência apurada, na sua inarredável moral. Religioso, tinha Fé inabalável em Deus, nosso Pai celestial.
Ocupou vários cargos públicos, tendo sido por diversas vezes secretário de Estado, deputado, e, em dois mandatos, diretor da Faculdade de Filosofia de Pernambuco. Em todos estes lugares, demonstrou competência apurada e ilibada conduta. Sempre se dizia fiel à missão do bem social, servindo às causas sem delas se servir, sendo este o seu postulado de conduta.
Deixou, portanto, um legado incomensurável de talento e cultura, de arte e inteligência, de honradez, ética e moral, infatigável no empenho e no desempenho dos seus deveres de um ser humano que sabia ser humano. Era, assim, um homem de bem e do bem, sendo esta a herança deixada à sua prole, porque riqueza material não era o seu forte.
Chegava a dizer: “o dinheiro foge de mim”. Quando recebeu, por seu conjunto de obras, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Machado de Assis, honraria que coube à minha pessoa, por escolha dele, representá-lo na Casa de Machado de Assis, sentiu-se realizado por ter feito jus a tão alta distinção.
Naquela Corte Literária, a maior do Brasil, diversos dos imortais me procuraram para que ele aceitasse postular uma vaga existente no momento. À época, o grande Barbosa Lima Sobrinho enviou, por meu intermédio, o comunicado de que, se ele aquiescesse, Barbosa, que nunca havia indicado nenhum dos imortais, no caso de Nilo sairia, à condição de porta-voz, ou cabo eleitoral para usar o jargão político, cumprindo a formalidade do peditório do voto. Pediria por Nilo e o faria, a Pe. Vieira, com argumentos.
Ao retornar, contei ao meu querido pai que, rápido, retrucou: "diga que, agradecido, repito Camões: “melhor merecer e não receber do que receber sem merecer”. Eu, meu filho, não me acho à altura daquela Instituição de tantos valores intelectuais". Esta uma humildade que também muito lhe caracterizou enquanto vivente deste planeta.
Mas o prêmio era somente a honraria, o que muito consagrava a quem o recebia. Todavia, no ano seguinte, a ABL, além do laurel, passou a conferir um recurso em dinheiro, então estabelecido em 50 mil reais. Informei a meu pai, dizendo-lhe: está vendo, agora, além do verbo que consagra o espírito, existe a verba que alimenta o corpo. Ele, de pronto, comentou: “eu não digo que o dinheiro foge de mim, mas não faz mal, se não veio, foi porque não tinha que ser meu. O dinheiro, Roberto, é o azinhavre da alma”. Esta uma frase dele bastante contundente, mas que tinha o alvo do combate a todo o ganho que não fosse rigorosamente legítimo. No caso, a compensação financeira era verdadeiramente justa, razoável e salutar. O que ele não aceitou foi pedir uma retroação, porque não se sentiria bem em praticar filigranas para auferir ganhos pessoais.
Este o seu padrão de conduta, a verdade que ele tomava como operária da Fé, o caráter emoldurado por ideias e ideais, todos da fidelidade do seu comportamento, da sua dignidade, uma moral irrefutável, inquebrantável.
Era um homem telúrico, sempre saudoso da terra onde nasceu, o seu Ceará-Mirim, que, segundo o escritor e imortal Josué Montello, era a sua pátria espiritual. A escritora Lúcia Helena Pereira, sua prima, também poeta, fiel à memória de Nilo, sempre deu realce às lembranças de Nilo à sua infância, à cidade onde nasceu. Este menino se fez homem, um adulto que da meninice não se desfez. Esta a simbiose de um Nilo maduro, mas conservando o frescor dos verdes anos, uma das suas inspirações.
Teve na vida duas grandes vocações: a do jornalismo e a do magistério, em que ele mais se realizou, sem esquecer que a sua produção intelectual, no plano da ensaística e da literatura, era uma decorrência destes dois pilares de sua natural aptidão.
Mas, hoje, decorridos vinte anos do seu desenlace desta vida, entre os seus familiares, o que muito nos marcou foi a pessoa humana, o líder de um núcleo amoroso, unido em torno dele, essa Igreja espiritual a que se reportava o Papa João Paulo II. E o melhor entre os seus filhos: somos tristeza que chora as lágrimas do coração, mas somos também alegria porque por onde chegamos o nome de Nilo é cultuado, admirado, respeitado até pelos que divergiam de suas ideias e até da sua crença em Deus. O amor à esposa, Lila, somente compartilhado com os seus filhos. Este o Nilo na sua inteireza, íntegro e integral, gente e agente do bem.
Ter sido seu filho foi uma dádiva divina. Ser tristeza e ser alegria somente pode aplanar a dor tão doída da perda de quem, tendo ido, permaneceu, porque o seu legado, junto à família, foi de amor e de paz.
Papai, você viverá enquanto vivermos, porque seus filhos também nunca se esgotaram da condição de filhos e de admiradores fervorosos.
Somos saudade, somente saudade! Uma doce saudade amarga!

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(*) Filho de Nilo Pereira - Secretário Executivo da Comissão de Turismo Integral do Nordeste - CTI - tendo chegado logo cedo, em Recife/Pe, vindo de Lisboa/Portugal, em viagem de trabalho

NILO PEREIRA - O SONHADOR DO VALE, POR SEVERINO VICENTE.

NILO PEREIRA
Nilo Pereira: o sonhador do vale
Severino Vicente


É bom sonhar, o homem que não sonha não vive, existe. Existir não é necessário, necessário é viver, criar e sonhar, os sonhos das possibilidades, do vir a ser. O chão é o lugar do homem, quando entendido e amado, é sagrado. Muito mais quando há o encontro mágico entre o criador e criatura, motivado pela inteligência emocional, quando somos capazes de compreendermos em determinado momento da vida a hora do agradecimento, da volta e do reencontro. É uma atitude dos grandes e Marcel Proust no ensinou a entender esse mistério, esta rápida passagem do menino e do homem, caminhando para o ocaso da vida.
Este momento proustiano Nilo Pereira absolveu muito bem, incorporando-o no seu verde vale. Uma cidade nascida às margens do rio Ceará Mirim, conhecido no passado como Rio Pequeno, habitado pelos índios Potiguares, que recepcionaram franceses, espanhóis e portugueses, numa afável convivência, quando desenvolveram uma espécie de comércio clandestino, cedendo aos estrangeiros o pau-brasil, existente em grande quantidade na região, e recebendo especiarias e quinquilharias, transportadas pelo leito do rio Guamoré.
Dom Henrique Felipe Camarão era o chefe da tribo, aliando-se aos portugueses fincou os alicerces do primitivo povoamento. Erguendo um convento, uma igreja e um prédio para instalar uma Câmara.
Este simples relato histórico para mostrar os primórdios desse belo vale, que para Nilo era comparado como uma primeira manhã da criação, a puríssima, nascitura, ainda bafejada pelo hálito de Deus.
O Poeta Sanderson Negreiros, genial e preciso, fazendo um comentário do autor de "Imagens do Ceará Mirim", uma espécie de poema-história que dedicou à sua terra assim conclui: "Nilo Pereira retorna à planície mortal e comum onde o sol veleja em hábil azul (sobrevivência), e baixo desliza o pomo de seu gasto sossego".
Ceará Mirim é um extremo sobrenome de cousas acontecidas. Igual ao verso de Drummond: "mas como dói"!
Sabia muito bem o historiador e poeta de Ceará Mirim que é impossível compreender a vida sem os encantamentos da alma. Daí ter deixado por um instante o fio de seu trabalho, percorrendo com o pensamento as vertentes e as doçuras do seu Éden maravilhoso. Um mundo que o elevou no mais amplo sentido da vida.
Os inspirados homens, Lúcia Helena Pereira a sobrinha querida, passam ficando. Por esta razão Nilo permanece vivo em tudo que existe de mais belo em sua terra: na igreja de Nossa Senhora da Conceição, um dos mais belos templos do Rio Grande do Norte, edificado sob a inspiração do Frei Ibiapina; o majestoso solar dos Antunes, uma edificação do século XIX, em estilo neocolonial, que atualmente abriga a sede do poder municipal; o Casarão do Engenho Guaporé, uma espécie de Olímpio dos deuses do vale a contemplar a cidade, construído nos idos de 1850 por Vicente Inácio Pereira; as ruínas de antigos engenhos, outros ainda em atividade, onde prosperou toda uma aristocracia canavieira; a velha estação do trem, restaurada pela dinâmica prefeita Ednólia Melo, marco de uma civilização podemos assim dizer; a histórica praia de Muriú, local de desembarque de franceses e portugueses, via Porto de Muriú; e porque não citar ainda as tradicionais manifestações folclóricas, como os caboclinhos, estudado e documentado por Mario de Andrade, no livro "Danças Dramáticas do Brasil", uma dança da tradição indígena, com Porta-bandeira, Matruá, Pêros e caboclos; os Congos de Guerra da comunidade de Taboão do mestre Sebastião João da Rocha, um cortejo real que rememora a passagem da rainha Ginga, soberana África pelas terras do rei Henrique Cariongo.
Este é o mundo de Nilo de Oliveira Pereira, 1909-1992, historiador, jornalista, professor e biógrafo, prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, uma espécie de príncipe do encantador e encantado vale com suas estórias, mitos e lendas.

Autor: Severino Vicente

Historiador, pesquisador sócio efetivo do IHGRN, Coordenador da Academia de Folclore do RN
(severino_vicente@yahoo.com.br)

domingo, 22 de janeiro de 2012

EM 23-01-1992, EU CHORAVA O ENCANTAMENTO DAQUELE QUE ATÉ HOJE, É UM ÍCONE - NILO PEREIRA!

ENGENHO VERDE NASCE QUE PERTENCEU AO AVÔ DE NILO - DR. VICTOR DE CASTRO BARROCA, DEPOIS, DOS SEUS PAIS: TIOS FAUSTO E BEATRIZ!
O GUAPORÉ

"Minha querida Lúcia Helena,
Recife, 03 de setembro de 1986

Lindíssima a sua carta sobre Gipse. Tudo nela é poesia e beleza. Aliás, de você que é poetisa, que mais poderia esperar? Que a Poesia ampare e ilumine você na sua ascensão espiritual.
Gipse! Que doce nome! Como me lembro dela! Aqui em casa, na Rua Bispo Cardoso Aires, 481, dei várias aulas a ela para a tese de Mestrado que estava elaborando. Mas o mestrado dela tinha ser no céu, onde o saber é infinito!
Rezo por ela todas as noites, como se estivesse vendo. Os grandes olhos azuis. Os cabelos louros, uma verdadeira madona de Rafael.
Minha querida Lúcia Helena: você é um anjo, um ser diferente, uma alma nobre, sei o quanto se doa, por inteiro, nesses momentos em que se faz necessária sua presença em acontecimentos familiares ou de pessoas amigas. O mundo vive hoje, dessas exceções. A regra geral é agora, a exceção e você é uma delas..." (N.P.)

" Lúcia Helena, dileta sobrinha (13-07-1988).
Nunca esquecerei o Ceará-Mirim! Minha shangrilá, meu vale de esmeraldas cintilantes, o guardador das melhores memórias: tia Madalena, tio Juvenal, Tia Etelvina, Edgar Barbosa, Adele de Oliveira, os primos Abel, Ruy, Vicente e Zico. O Verde Nasce onde verde nasci e um anjo soprou-me a sinfonia eterna dos ventos assanhando o canavial. Verde Nasce, que nunca esqueci e onde encontrei inspirações dadivosas...que sempre cuido em recordar com a saudade de um menino que se tornou adulto e não esqueceu, jamais, a sua paisagem de infância" (N.P)_

"Querida prima Lúcia Helena

"Amanhã, 23-01-2012, já se vão 20 anos do desenlace do meu pai. A família Nilo Pereira rememorou a data com uma missa na Igreja da Piedade, no Recife. Neste mundo a maior homenagem saiu da sua sensibilidade com a página veiculada, hoje, no seu Blog.
Nilo tinha razao quando afirmou "A maior dimensão humana é a saudade". Somos somente saudade!
Abraços fraternos, Roberto Pereira.

Enviado do meu BlackBerry® da TIM"
(Roberto encontra-se em Lisboa-Portugal)
(Filho de Nilo Pereira)

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"Lúcia Pereira

Hoje, 23 de janeiro de 2012, é dia de uma lembrança infausta para mim: a morte de meu pai há exatos 20 anos. É incrível que o tempo passe assim, num piscar de olhos, quase. Foi no começo do dia, entre as nove e as dez horas, que ele sentiu-se mal, expressou isso à cuidadora e fechou para sempre os olhos. Trago comigo a lembrança da noite que passamos juntos - a derradeira noite -, quando ele praticamente não dormiu, assim como eu nessa noite de agora. São 4:00 da manhã da segunda-feira e eu acordado, não sei a razão, escrevo essas notas. Pela manhã daquele fatídico dia, quando sai de sua casa, ouvi dele o pedido de que voltasse logo mais à tarde, pois gostaria de me dizer uma coisa. Não sei o que era! Não faço ideia! Não adianta imaginar ou fantasiar .

Geraldo" (filho de Nilo Pereira)
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Geraldo Pereira http://blogdaubern.blogspot.com/2012/01/transcrevo-palestra-que-proferi-no.html

GUARDO NOS OLHOS, NA ALMA E NO CORAÇÃO, O EXUBERANTE PÉ DE ACÁCIA ROSA DA FAZENDA SANTA ÁGUEDA

O CANAVIAL - UMA VISÃO DE SONHOS E PARA OS QUE SABEM SONHAR, SOB O CLARÃO DO SOL, DAS LUAS, OU EM PLENA AURORA!
NA ESTRADA, OS VERDES E VIVOS CACTUS, COM SUAS FLORES DELICADAS E SEUS FRUTOS EM MEIO AOS ESPINHOS, PORÉM DELICIOSAMENTE DEGUSTADOS PELOS BOIS.
O PÉ DE ACÁCIA COR DE ROSA
Lúcia Helena Pereira

SENTINELA DE TODAS AS HORAS, A BÚSSOLA APONTANDO OS CAMINHOS!



Onde buscar palavras para descrever um bordado de flores de todas as cores e formas, quando de minhas idas, com papai (*), à sua Fazenda Santa Águeda, no vale verde do Ceará-Mirim, onde uma acácia cor de rosa sinalizava os caminhos?
As palavras, na verdade, perdem-se no meu emaranhado de pensamentos, lembranças e sentimentos de tempos felizes da infância e adolescência, entre Ceará-Mirim e Natal/-RN.

Lembro-me, ainda menina, das muitas vezes que visitei a fazenda. Lá estava o estendal verde arreganhando suas asas sob o baloiço do vento. De Ceará-Mirim, até Santa Águeda, o percurso (naqueles tempos, com as estradas em péssimas condições) levava de 40 a sessenta minutos. Um tempo que devotava às minhas contemplações diante da vegetação perfumada e bela: as oitiças (árvores bem altas); os xique-xiques, mesmo sob a inclemência do sol, exibindo seus frutos e flores; as palmeiras abanando-se com seus leques gigantes; os pés de açafrão enfeitando as cercas humildes; as babosas brilhantes e serenas; os quintais com pés de matruço e as hortaliças; a vegetação importante de tirar mau olhado: arruda; pinhão roxo também resguardando a sorte; as galinhas passando na estrada, cabritos, vacas, jumentos...os cães latindo, como a avisar a presença de intrusos.
Essas eram as viagens mais belas que eu fazia dentro de mim mesma, vendo e revendo caminhos de outrora, ouvindo as vozes dos meus avós e dos compadres dos meus pais.
Já morando em Natal, vez ou outra visitava a fazenda com a vasta plantação de cana-de-açúcar, à época, na boa safra, fornecido o seu produto aos engenhos e usinas. Lembro-me do canavial de Santa Águeda - até hoje, como se fosse a grande tela de Van Gogh - com a natureza completamente viva, verde e luminosa. Tudo isso me provocava uma sensação incomparável: após percorrer caminhos pedregulhos, árvores do sertão em solo duro castigado pela falta de água, a visão do canavial era um presente ao olhos. Ali estava o canavial com sua exuberância, suas palhas alvoroçadas ao soprar dos ventos, os raríssimos pássaros azuis e simples pardais cruzando os ares, a passagem pela pequena e rudimentar ponte do rio Água Azul, com seus olheiros de águas escuras e misteriosas, espelhando meu rosto de menina.
Chegávamos cedinho, montávamos nos cavalos, juntamente com o capataz - sr. Auto - homem sério, bom caráter e percorríamos a fazenda com suas canas altaneiras. Bem antes de chegarmos à primeira porteira, logo avistávamos o gigante cor-de-rosa: o pé de acácia! Parecia um poema, um buquê rosa de flores maravilhosamente nascidas como filhas do astro rei: luminosas!
Dona Diva, a esposa do capataz estava sempre a debulhar feijão verde, ou alimentando as galinhas, varrendo o terreiro... Dava gosto vê-la em passos ágeis até a hortaliça trazendo coentro, cebolinhas, tomates perfumados e pimentões. Colocava tudo na panela do feijão - panela de barro, no fogão de barro e à lenha.
N´outra panela a galinha (torrada) - galinha criada solta, pelos quintal - cujos ovinhos ela separava para mim. Meu pai nunca se descuidava e levava mantimentos para o dia em que passávamos lá.
Em Santa Águeda havia uma pequena criação de caprinos e uma vez ou outra dona Diva matava um bicho desse (dava pena a forma como eram mortos com mão de pilão), fazia o picado dentro do bucho costurado com linha e agulha (eu ficava horrorizada), ao final, uma prato saboroso que degustava com muita ânsia.
Papai tinha uma rede na Fazenda onde tirava um cochilo após o almoço. Eu ficava jogando milho para as galinhas ou ajeitando os jarros de plantas de dona Diva que ficava resmungando por cauda dos muitos gatos que desarrumavam seus jarros de flores.
Hoje, só para lembrar o pé de acácia indicando o caminho para a fazenda Santa Águeda. Eu sei que ele continua em seu lugar, dando sombra e flores. Ali deixei o paraíso onde fui sempre tão feliz, numa casa com alpendre e combogós, doze pilares com jarros de plantas penduradas. A casa onde um canavial se exibia e as algarobas enfeitavam a entrada do terreno...e os pássaros voavam e cantavam as suas harmonias!
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(*) Abel Antunes Pereira (meu pai)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

TRANSCREVENDO AS MINHAS IMPRESSÕES SOBRE O LIVRO DA QUERIDA CONFREIRA DA ACLA - CLÉA BEZERRA MELLO CENTENO.

USINA ILHA BELA
"DEVER DE MEMÓRIA"
Cléa Bezerra Mello Centeno
APRECIAÇÃO DE LÚCIA HELENA PEREIRA

Natal, 03 - 07- 2006

Querida Cléa.

A leitura do seu livro me fez tomar nas mãos, nos olhos e no coração, com devotada admiração, a expressão magnânima do primo Nilo Pereira, para assim, louvar a memória do seu pai:

"Que se pode dizer de um homem? Ele é a síntese da humanidade. Nelo estão todos os séculos. Por isso a história é o seu juízo. Impossível esquecê-la na interpretação da vida! Que diriam os homens de todos os tempos do homem de hoje? Talvez o mesmo que dizemos dele. O julgamento histórico muda o tempo e o espaço, mas não muda a essência humana"!

Hoje cedo, após seguir esse roteiro fantástico nas 344 páginas de "DEVER DE MEMÓRIA" (incluindo o pensamento de Célia na contra-capa), emoções benfazejas me acompanharam. Além das legendas, da rica memória fotográfica (inspirando revelações quase esquecidas na vertigem do tempo), você teve o cuidado de guardar registros e consultar várias fontes, entre elas: "Oiteiro: Memórias de uma Sinhá-Moça" de vovó Madalena (Maria Madalena Antunes Pereira) e "Imagens do Ceará-Mirim", de Nilo Pereira, que serviram de adornos à sua gloriosa estréia na literatura do Rio Grande do Norte.
Bem haja! Bem haja ao seu amoroso gesto na publicação da biografia de um homem de caráter impoluto: UBALDO BEZERRA DE MELLO. Creio que a cidade de Natal e o RN têm o dever de honrar e louvar tão nobre figura!
Com essa pesquisa histórica, política, social e humana, você vem inaugurar uma nova fase nas letras e na história de nossa terra. Um bela oportunidade para as novas gerações conhecerem outras ilustres figuras da política e de outros itinerários da história e de nossa cidade.
Na página 125 você ressalta, com igual fidelidade, as origens da Usina Ilha Bela narradas por vovó Madalena, bem como, expõe, numa seqüência rigorosamente fiel, os antigos donos da referida Usina, como é de se constatar o caso do barão de Ceará-Mirim, Manoel Varella do Nascimento - meu trisavô.
Mais adiante, na página 155, você descrever, com um carinho ímpar, o casamento dos seus familiares na década de 40. Mais uma vez me emociono com as fotos e legendas, dessa feita, dos meus tios: Oneide Pacheco Freire e Antônio Eduardo Freire, que se casaram em 1945 (o ano do meu nascimento). Agradeço, nesse ítem, a referência aos meus avós maternos: Raimundo Pereira Pacheco e Olympia .
Imagino, Cléa, o que possa significar as saudades da antiga "BICA" - Fazenda Santa Terezinha (que eu conheci, ainda menina), e que sua mana Zélia Mariz recorda, sempre que nos encontramos e vasculhamos o passado. Nesse percurso, suas lembranças chegam com alegria e a certeza de que ali, naquele canto bom de mundo, ela viveu a sua fase áurea, suja vida de infância.
Talvez as sensações vivenciadas por vocês, na "BICA", tanto quanto as de Nilo Pereira no Verde-Nasce, preencham suas almas com o pensamento lapidar do nosso grande escritor Nilo: "...Só a saudade dá um sentido eterno às coisas findas".
Este é o meu aplauso, com vaidade e honra, por aquele que foi capaz de ser muitas coisas ao mesmo tempo e seguir a vida, na sua conduta inconsútil, sem ostentações ou ironias, sem prepotência ou rancor, mas, sobremaneira, com a humildade dos que nascem essencialmente grandes. Grandes na essência humana e nas belas qualidades do caráter. Isso me leva às palavras de mamãe - Áurea Pacheco Pereira, um mês após o meu casamento, quando tomei ciência da morte do senhor Ubaldo Bezerra de Mello: "Homens como Ubaldo Bezerra não morrem nunca. Ficam como exemplos aos seus descendentes. Ficam como grandes árvores apontando caminhos. São esses homens que ficam, para nos lembrar da sua pureza, da sua capacidade de amar tão ampla, clara e profundamente"!
Parabéns, Cléa, por essa vitrine de relíquias luminosas contidas no seu livro. E que a sua linda sobrinha Zelhinha possa dar continuidade ao talento literário dos Bezerra de Mello. Para isso ela reflete a glória de ser poeta, nos lumes de suas palavras sobre o avô:

"...quando rico soube sem simples,
quando pobre soube ser altivo,
quando poderoso soube ser humilde,
quando derrotado soube ser herói"!

Este verso reúne a beleza da poesia de Zelhinha. A poesia molhada nas águjas da saudade e do amor ancestral. Aleluia! Hosana nas alturas!
E você, Cléa, conseguiu o seu intento: contar a história que estava guardada com a sua família. A história que nem todos poderão imitar, por viverem num mundo em que a pureza se esconde. Mundo onde a honestidade, a lealdade e a dignidade começam a ganhar outros rumos. E nós, representantes das sobras desses homens de bem, simplesmente baixamos a cabeça e dizemos: ainda bem que os nossos pais não viram as cenas da política atual: aviltante, afetando a alma do velho e magoando os sonhos da juventude e negando, veementemente, à infância carente, uma parcela do essencial.

Por tudo isso, Cléa, muito obrigada pelo seu livro.

Lúcia Helena Pereira

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CRÔNICA DO MEU CONFRADE, MEU CONTERRÂNEO, MEU AMIGO E MEU PRESIDENTE - PEDRO SIMÕES NETO.

PEDRO SIMÕES NETO

QUE FAZER DESSE SOL DOMINGUEIRO VERANEADO?
DOMINGUEIRAS (01.05.11)
Pedro Simões Neto (*)


Já acordo no domingo procurando o meu cavalo branco (não o uísque, mas o animal) selado e arreado no terreiro de casa, pra me danar pelos ocos do mundo. Quando estou bem desperto descubro que estou em plena selva de concreto e asfalto, mesmo que algumas árvores dos cant...eiros da rua me remetam para o quintal do casarão de Ceará-Mirim. Fazer o que?
Vou para o meu “aquário”, um mirante que me expõe as ruas próximas e as dunas distantes, e encho os olhos de paisagens e de sonhos.
Um cachorro deposita os seus restos de lixo na calçada, e me lembro que quando criança nós entrelaçávamos os dedos indicadores e num repente, os excrementos do animal não fluíam mais, ficavam como que congelados entre o orifício e o espaço. Até que alguma senhora bondosa, numa zanga bem humorada nos fazia descruzar os dedos. E “plaft”, o sólido era atraído pela gravidade e se espatifava no chão.
A caminho do escritório, um sol veraneado e domingueiro me anima a tirar os óculos para captar de modo natural, sem anteparos, o mundo que me rodeia. É quando descubro um casal(?) de Galos de Campina. São velhos conhecidos. Quase sempre os encontro, no mesmo horário – entre 6 e 6.30 – bicando ciscos no chão.
Por isso tomei a decisão de sair todas as manhãs com a máquina fotográfica e nunca consegui flagrá-los, pois eles fogem tão logo me aproxime. Hoje tomei mais cuidado e fui me esgueirando pelo muro, sorrateiro, caviloso, dissimulado, e consegui chegar a uma distância que julguei suficiente para produzir uma obra de arte.
O sol no meu visor confundiu as imagens. E a minha visão, já cansada de 67 anos de “voyeurismo” existencial, sem os óculos, e com o olho direito aguardando o momento da cirurgia da catarata, completou o registro das dificuldades. Disparei o botão pedindo a Deus um milagre.
(Quando cheguei ao escritório e fui conferir as imagens, descobri que três das fotos esqueceram os pássaros e das três restantes, apenas uma distinguia as duas aves um exercício de adivinha. Estou decido a tratá-las no Photoshop para não admitir a derrota.)
A chave do cadeado escapuliu-me da mão e se projetou entre as grades do portão, caindo entre hibiscos do jardim da entrada. O portão impediu-me de recuperá-las. Pular o muro, nem pensar, com a cerca elétrica em funcionamento. Liguei para casa pedindo a duplicata e alguns minutos depois pude afinal entrar no meu refúgio.
Meu escritório é um caso à parte. É uma pequena construção térrea, composta por três peças: sala de estar/espera, sala de trabalho e banheiro. São apenas 40m² de área construída. Uma verdadeira caixa de Pandorra. Onde deveria ser a sala de espera, é também serventia de livros acondicionados em caixas de papelão e alguns equipamentos da antiga loja de artigos personalizados de minha mulher.
A sala de trabalho comporta a minha mesa de vidro em forma de “L”; três impressoras, um notebook e um computador de três módulos; duas poltronas azuis enormes; uma escrivaninha das antigas, integrante de um conjunto que inclui um divã em madeira e vime; uma mesa de reuniões com quatro cadeiras de vime; frigobar, som, estantes, estantes e estantes, livros, livros e livros.
Uma pequena pinacoteca com reproduções de Portinari (cangaceiros, instrumentistas e meninos caçadores e vendedores de pássaros); imagens de casarões e ruínas de Ceará-Mirim; e diplomas, títulos, medalhas. Um São Francisco de Assis Marinho e muitos gaveteiros.
É aqui que componho as minhas escrituras, reúno os amigos e atendo eventuais clientes.
Sentado diante do computador teclo essa crônica com o pensamento distante, embaralhando o que escrevo. Como estará Ceará-Mirim nesse dia de sol? Onde estaria no Ceará-Mirim o menino descalço, sem camisa, de calças curtas, mundo pequeno, curiosidade enorme, esperanças muitas, sonhos ilimitados?
Não sou lamurioso, nem vivo ancorado no passado. Sou homem contemporâneo, ajustado, tolerante, sem preconceitos. Mas que os domingos de sol veraneados são sumidouros de memórias, isso são...
Vou aguardar mais algum tempo para saborear um velho (Old) e honesto Parr e assuntar com os amigos e a família à beira da piscínica, os muitos ufanos da terra Brasílica, beijada pelo sol e pela brisa que balança a palha dos coqueiros e assanha os cabelos das morenas.
Que cada um reencontre o seu Ceará-Mirim.
Bom domingo.

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(*) Advogado, escritor e Presidente da ACLA


Fonte: http://www.facebook.com/profile.php?id=100000105753284#!/profile.php?id=100000266882272

sábado, 14 de janeiro de 2012

"PITUAÇU -- MINHA VIDA" - ESCRITO AOS 18 ANOS (1988), PELO ADVOGADO E SENHOR DE ENGENHO - EDUARDO HENRIQUE GOMES DE CARVALHO.

O LIVRO DO JOVEM SENHOR DE ENGENHO - EDUARDO HENRIQUE GOMES DE CARVALHO - ESCRITO AOS 18 ANOS DE IDADE, EM 1988.

Acordei meus olhos com o sopro do bafo dos anjos, neste amanhecer de 14-01-2012. Um amanhecer em outro vale, não menos verde na sua visão sentimental e telúrica, mas, pura e simplesmente a paisagem bafejada pelo hálito puro de um jovem que se descobre escritor, aos 18 anos, e, ousadamente, juntou fragmentos de lembranças fiéis e transportou-as para um livro intitulado: "PITUAÇÚ - MINHA VIDA"!

Antes de começar a ler a bela obra, fui tomar o meu café da manhã, afinal, sou diabética (...e venho da terra do açúcar). Depois, verei o que a alma imaculada de um jovem cambiteiro de sonhos e de saudades, vem trazendo, numa carruagem de flores, como oferta à mulher com apelido de poeta, mas, acima de tudo, com a honra de homenagear os seus ancestrais, todos de sua melhor afeição.

Sorvo bom gole de vinho tinto na taça de um deus do Olimpo e me embriago nas águas dos rios Cunhaú e Catu, deixando-me transportar nas asas das gratas reminiscências traduzidas no livro que Eduardo Henrique Gomes de Carvalho escreveu, pela Coleção Mossoroense (série C - Volume CD XXXV) em 1988, no ano do centenário de nascimento de Joaquim Inácio de Carvalho Filho.

E o autor, em breve apresentação como prólogo, em apenas cinco linhas, vem se desculpar pela falta de dados completos dessa grande saga que é a história do Engenho Pituaçu, em Canguaretama/RN. E ele conta, em cinco agradáveis e emocionantes capítulos, a sua visão de jovem em busca daquele mundo que ele não deixou se perder, desenvolvendo esses capítulos que suas lágrimas imaturas iluminaram-no, na estrada das recordações, sem que perdesse de vista os que lhe ensinaram a rota certa, o palmilhar entre reminiscências que só engrandecem essa estirpe de homens fazedores do açúcar a adoçar-nos a vida.

Eduardo Henrique, tetraneto dessa geração de senhores de engenho, vem me buscar, nesta manhã de um janeiro iluminado pelo sol da festa do verão, segurando as mãos dos anjos para me fazer adentrar nesse claustro que é a grande saga - o ENGENHO PITUAÇU. Ele cochicha algo com esses anjos, abre o seu olhar de mel e de poesia, segura minha mão, e como um verdadeiro Senhor do Engenho, vai ampliando os caminhos à minha frente. Ele é o arauto da sinfonia trazida de uma nuvem que se esgarçou num céu iluminado, mergulhado num tinteiro de anil e ma transportando, nas harpas eólias que fazem vibrar as altas notas das partituras do seu coração, a mostrar-me um mundo tão nosso, tão igual, tão próximo de nós dois.
A emoção nos domina. O som das vozes do passado ressoam aos meus ouvidos. Ouço o canto dos pássaros e sinto o cheiro do melaço soprando dos bueiros dos engenhos de nossa minha infância perdida. Vou perseguindo as pegadas do tempo pelas mãos de Eduardo Henrique. Ele olha para o alto, onde as nuvens brincam de feriado celeste, sua garganta deixa sua voz entrecortada contar essa bela história, que tanto me comove. Ele me braça com um carinho irmão e me permite conhecer boa parte do seu mundo ancestral, que ele não permitiu que ficasse submerso com a erosão dos ventos e a destruição que o tempo produz Antes, ele o enriqueceu com a herança do vigor e empenho de cinco gerações que trabalharam em prol da fabricação de açúcar, mel, rapadura e aguardente, diversificadamente em épocas distintas, fosse na era rudimentar, artesanal, ou já no avanço da tecnologia, onde tudo ficou bem mais fácil.

Nas dedicatórias do seu livro, Eduardo esbanja sua gratidão aos bisavós: Joaquim e Donana, aos avós - José Gomes Maria, Nicinha, entre outros que passaram pelo Pituaçu, mas, acima de tudo, é com a devoção filial que ele abre o peito para agradecer à Marília Gomes de Carvalho, sua mãe, a mulher e heroína, a ajudadora imprescindível à reativação da grande engrenagem que é o Engenho Pituaçu, neste momento, enlevo de açúcar cande derramado do grande pote de sua mais pungente gratidão e honraria - SALVE!

Eduardo Henrique fecha o seu livro com um poema lapidar: "Pituaçu"!
Poema que tira das sombras os mortos e reacende aquele boeiro de fogo, mel e poesia!

Lerei os cinco capítulos com fervoroso interesse:
"O engenho, a força, o poder", "Gente do "Pitu"", "Novas Gerações", "Os mortos" e "O Poema"!

Bem haja! Bem haja ao amor que tudo faz! Bem haja à escrita que nos dá tanto ouro e esmeralda! Bem haja ao jovenzinho com alma de escritor, remergulhado no feno da saudade e da paisagem idílica do encantamento ancestral!

Grata por esse passeio sentimental e telúrico ao seu mundo, tão quase igual ao meu já quase submerso, porém, guardado pelo velho oitizeiro, bendizendo o mistério da morte dos que vieram antes de mim.

Lúcia Helena

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

HOJE, MISSA DE 7° DIA PELO MEU MESTRE - ENÉLIO PETROVICH - DIVIDO, COM OS LEITORES DOS MEUS BLOGUES, O PREFÁCIO DO MEU PRÓXIMO LIVRO.

ENÉLIO LIMA PETROVICH
MEU MESTRE, MEU PRESIDENTE, MEU AMIGO!
ENÉLIO E MIRIAM - MEUS GRANDES AMORES
MEUS PAIS:
ÁUREA PACHEO PEREIRA E ABEL ANTUNES PEREIRA
LÚCIA HELENA (05 ANOS DE IDADE), MAMÃE E PAPAI
PREFÁCIO
Enélio Lima Petrovich


Lúcia Helena, nossa querida confreira do Instituto Histórico e Geográfico do RN, dá-me a honra de compartilhar das memórias de sua infância, no vale da Sinhá-Moça, escritora Madalena Antunes, irmã do poetas cearamirinenses, Juvenal Antunes e Etelvina Antunes.
Lúcia recolhe o mel dos tachos das recordações e nos leva num percurso amoroso, inocente, puro, ao lado de criaturas humildes que tanto adoçaram essas páginas inesquecíveis: páginas líricas do começo de sua vida.
Estamos na praia da Redinha onde veraneamos há alguns anos. Não vejo o vale verde, a paisagem bucólica que Monteiro Lobato certamente adaptaria a uma de suas fábulas. Mas posso contemplar o azul do mar, especialmente nesta tarde, esbanjando sua beleza e imensidão. O azul do mar da Redinha, onde, todos os anos aguardo a cara amiga e ela nunca aparece, creio que prefere o bucolismo do vale onde nasceu.
Lúcia Helena vem daquele vale esmeraldino. Vem dos brasões de Manoel Varela do Nascimento e Bernarda. E ela traz na alma, como um sinal de nascença, toda a bondade, simplicidade e fidelidade que são marcas indeléveis do seu caráter irrepreensível.
Eu e minha esposa compartilhamos dessa amizade sadia com a poetisa dos verdes canaviais. Muitas vezes, ao sairmos de uma solenidade no Instituto ou de outras entidades, ela nos acompanha até o bistrô Douce France, onde costumo degustar um bom sanduíche árabe, coberto com aquela floresta de verde e bom sabor - as alfaces.
E tem sido assim, com Lúcia Helena, que já faz parte do nosso escalão de amigos verdadeiros. E ela é uma amiga de valor inestimável, sincera, serena, discreta, com a alma sempre leve a nos acariciar com a sua grande ternura.
"Palcos da Infância" não é apenas a memória ilustrada dos dias da infância da poetisa do vale. É a sua saudade enfeitada com deliciosas palavras e narração fiel de fatos de um cotidiano de felicidade, quando a infância de Lúcia Helena vai regressando, não apenas aos seus olhos, mas daqueles que irão conviver com essas páginas de emoção e poesia, quando a escritora se propõe abusar da linguagem brejeira daqueles que fizeram parte do seu nirvana particular.
Desejo comemorar a alegria dessa festa emocional pelas mãos liriais de minha querida confreira e amiga, a quem dedicamos, Miriam e eu, distinta amizade.
E que este livro, puro reflexo da alma impoluta de quem o escreveu, seja para o Ceará-Mirim, a bandeira de luz, poesia e gratidão

Palmas para a cronista em sua caminhada palmilhada de flores e saudades.

Enélio Petrovich
Escritor


Redinha, 02 de fevereiro de 2009, dia de N.Sra. dos Navegantes.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

MISSA DE SÉTIMO DIA POR ENÉLIO LIMA PETROVICH, EM 12-01-2012.

MISSA DE SÉTIMO DIA
ENÉLIO LIMA PETROVICH
ENÉLIO LIMA PETROVICH
13/06/1934 06/01/2012

MISSA DE SÉTIMO DIA

Miriam Petrovich (esposa), Lírian, Célio, Enélio Antônio (filhos), genro, noras e netos agradecem as manifestações de pesar recebidas e convidam parentes e amigos para a missa de 7º dia que será celebrada na Matriz Nossa Senhora da Apresentação (Antiga Catedral), Praça André de Albuquerque, Cidade Alta, às 18:30h da quinta-feira, dia 12/01/2012. Antecipadamente, agradecem aos que comparecerem a esse ato de Fé Cristã.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

UM SENHOR DE ENGENHO EM PLENO SÉCULO XXI - EDUARDO HENRIQUE GOMES DE CARVALHO.

Desde os séculos mais recuados, o Brasil, sobretudo na região Nordeste, recebeu a presença dos negros como mão de obra necessária aos trabalhos pesados. Com o ciclo da cana-de-açúcar essa presença fortificou-se e os negros chegavam ao Brasil através dos navios negreiros para servirem de "máquinas" humanas nos trabalhos rurais.
Eles tanto serviam nas casas dos senhores de engenhos, como nas plantações, na lavoura leve e onerosa, na plantação e colheita da cana-se-açúcar, como os primeiros cortadores de cana.
Mais perto do Séc. XX os engenhos foram se modernizando e ganhando belas arquiteturas e maquinário mais sofisticado e potente.
(foto da entrada do engenho Pituaçu/RN)
Mas, bem antes dos nossos avós, os carros-de-bois (influência dos portugueses) faziam o transporte da cana para os engenhos. Uma cena linda, hoje, mas antes, uma cena de servidão humana e animal!
O engenho de antigamente, com seu bueiro de fogo aceso em tempos de boa safra, a casa-grande, embora de aparência simples, guardava o "império" dos senhores de engenho com sua fartura, sua riqueza e prepotência!
(engenho Oiteiro)
A roda d´água que puxava água para os engenhos.
Oiteiro - foto da tela de Goreth Caldas
O NOVO SENHOR DE ENGENHO-
Eduardo Henrique Gomes de Carvalho
E não podia ser diferente: ele é escritor e dedicou-me essa página memorável. O fruto de uma prenhez feliz, realizada entre o anoitecer do ano velho e a madrugada de ano novo. Fusão de almas em ebulição de reminiscências!
OS "BARÕES" SENHORES DE ENGENHO DO SÉC. XXI
Lúcia Helena Pereira e Eduardo Gomes de Carvalho
Minha querida Lúcia Helena,


É com muita emoção que lhe escrevo para agradecer e parabenizá-la pelas matérias postadas, em 01/01/2012, em seus blogs - “Verde Vale” e “Outras e Outras”.
Para mim foi um prazer imenso ter lhe conhecido pessoalmente, através da nossa grande amiga comum - Violante Pimentel, nossa querida “Viola”.
Eu já lhe conhecia como escritora e poetisa, através do mundo virtual, e já admirava sua inteligência impar e sua sensibilidade aguçada, sempre presentes em tudo que escreve. Também não poderia ser diferente, uma vez que o talento literário lhe corre vivo nas veias, bastando para isso que se conheça a obra maravilhosa de Madalena Antunes (ainda hoje, para mim, uma inigualável narração de uma época extinta, mas que continua viva nos corações daqueles que amam o belo e o simples).
Portanto, repito: o prazer de conhecê-la foi todo meu! E ao ler o que você escreveu sobre nossas conversas ao som barulhento e maravilhoso da Super O’hara, pude constatar - ainda surpreso - sua incrível capacidade de transcrever fidedignamente todo o teor de uma conversa informal e ocorrida num ambiente que dificultava sobremaneira qualquer concentração. Conheço pouquíssimas pessoas capazes de tal proeza!
Ademais, não bastasse tal prova de concentração e capacidade intelectual, também me emocionei bastante com o carinho e esmero dispensados a mim, minha mãe e demais amigos presentes naquela festa. Contudo, sempre intuí que você era essa pessoa que floresce amizade, poesia e emoção.
Quanto à afinidade surgida entre nós, acredito - realmente - que advém de nossas raízes familiares, pois somente quem descende de uma família criada num engenho de açúcar nordestino, sabe o quanto esses valores emocionais, ligados à amizade verdadeira e despretensiosa, estão imortalizados no âmago da alma, tal qual uma confraria secreta que resiste aos séculos.
Portanto, nossa afinidade descende do cheiro do melaço; da força do açúcar preto; da aguardente pura e tomada, junto com os negros, nas “quengas” de cocos ainda na destilação do engenho; dos cheiros fortes e inebriantes nas safras de cajás, genipapos, cajus, mangas, araçás e tantas outras frutas que entranharam seus odores em nossas memórias...
Nossa saudade é semelhante porque reside num tempo onde o amor familiar se sobrepunha a qualquer outro tipo de sentimento, onde as famílias eram a célula mater naquele mundo lindo e lírico do engenho... Por isso temos a saudade preenchendo grande parte da nossa essência, ao contrário da grande maioria das pessoas da atualidade que se perdem perseguindo o volátil.
Aproveito a oportunidade para reforçar o convite de tê-la no nosso querido Pituaçú. Quero apresentá-lo a você e partilhar nuances quase extintos e fora de voga nesse mundo moderno, mas que você conhece e com certeza também aprecia. A nossa casa-grande estará de portas abertas para receber a neta de Madalena Antunes, como se estivesse voltando ao saudoso Oiteiro mais uma vez, com direito à antológica sombra do “Oitizeiro” e às brincadeiras da “Patica”.

Um abraço no seu coração!
Natal, 09 de janeiro de 2012.

Eduardo Henrique Gomes de Carvalho


Fonte das ilustrações books.google.com.br/books?isbn=8571772657.
Gibson Barbosa, Goreth Caldas e anderson Tavares